“O cérebro mente-nos muito. Lamentamos ter de lhe dar esta notícia, mas é verdade. Mesmo quando o cérebro está a desempenhar atividades vitais e complexas, não nos apercebemos do que se está a passar.
O nosso cérebro tem intenção de nos mentir?
Claro que o cérebro não tem esta intenção de nos mentir. Em geral, faz um ótimo trabalho, esforçando-se para nos ajudar a sobreviver e a alcançar os nossos objetivos neste mundo tão complicado. Como é muito frequente termos de reagir rapidamente, seja face a emergência, seja face as oportunidades, o nosso cérebro prefere encontrar uma resposta menos precisa do que demorar tempo a tentar encontrar uma resposta perfeita. Este facto juntamente com a complexidade do mundo, significa que o cérebro tem de utilizar atalhos e fazer bastantes suposições. As mentiras do nosso cérebro são em nosso próprio benefício – a maior parte das vezes –, mas também conduzem a erros previsíveis.
Desta forma, um dos nossos objetivos é ajudá-lo a compreender os tipos de atalhos e de suposições encobertas que o cérebro utiliza pela vida fora. Esperamos que com esse conhecimento consiga mais facilmente distinguir quando o cérebro é uma fonte credível de informação e quando é provável que o induza em erro.
Quando os problemas começam?
Assim, os problemas começam logo à partida, quando o cérebro recolhe informação acerca do mundo através dos sentidos. Mesmo que estejamos sentados calmamente numa sala, o nosso cérebro recolhe muito mais informação do que aquela que é capaz de reter, ou do que aquela de que necessitamos para decidir um curso de ação. Podemos reparar num padrão de cores do tapete, nas fotografias na parede e no som dos pássaros lá fora.
Inicialmente, o nosso cérebro apercebe-se de muitos outros aspetos do cenário, mas depressa os esquece. Geralmente, essas coisas não são importantes, por isso não nos apercebemos da quantidade de informação que perdemos. O cérebro mente bastante por omissão, ao livrar-se da maior parte da informação, assim que a considera irrelevante.”
Referência: Aamodt, S., Wang, S., & Tavares, D. (2009). Cérebro: Manual do utilizador.